quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ORBITUR S.A., por aqui? (II parte)


Como reacção ao apontamento de ontem - ORBITUR SA, por aqui? - recebi um comentário (publicado na referida postagem) emitido pela empresa em causa, o qual pela sua celeridade e oportunidade é digno de louvor e de ser aqui divulgado. Eis, pois, o conteúdo principal da missiva recebida:



"A Orbitur é proprietária, desde o dia 8 de Março de 1962, de um lote de terreno com 40.000m2, situado na localização assinalada, não tendo actualmente qualquer projecto para a área descrita.
A colocação dos novos marcos, representados em fotografia, teve como objectivo substituir os originais, entretanto desaparecidos.
Trata-se de uma delimitação de propriedade que, por intempérie ou acção humana, tinha desaparecido do local."



Perante estas  informações cabe-me fazer alguns comentários: 


- Privatização de campos dunares foi possível no passado, jamais aceitável no presente, face à legislação existente actualmente que considera prioritária a conservação destes ecossistemas. 

- torna-se de difícil compreensão, aceitar a ideia de que nos tempos actuais (de forte transgressão marinha, de Directivas Comunitárias e de Legislação Nacional, como a REN, no sentido da protecção da orla costeira e da existência de Planos de Ordenamento da Orla Costeira e de outros instrumentos territoriais) se encontrem numa Zona de Risco, como o Furadouro, 40.000 m2 de campo dunar privados.

- Se em 1962 os problemas de erosão costeira não se colocavam na praia do Furadouro como hoje se colocam, e se eventualmente haveria à data ideias/projectos pensados para a valorização do povoado, nomeadamente através da implantação de infra-estruturas nos campos dunares, hoje esse aspecto é desprovido de sentido, não só pelo recuo da linha de costa que entretanto se verificou e que coloca a referida propriedade muito próxima da água, mas porque a função da faixa litoral é hoje completamente diferente e não permite a instalação de infra-estruturas fixas na mesma.




(este artigo foi publicado no jornal "João Semana", de 01/04/11)





terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ORBITUR S. A., por aqui?











Uma visita à praia do Furadouro. Mais uma. Em dia de mar rijo, pois cheia vai a Lua e o vento sudoeste a ajudar também.






Na marginal, os efeitos dos galgamentos não passam despercebidos. A força 
do mar, desse “Golias invencível”, como a ele já me referi, é demolidora.





Ao longo da marginal urbanizada o rito não varia muito. A mesma gente, a mesma arte, numa azafamada “irmanação” de blocos rochosos.  Enrocar, é a palavra de ordem na zona frontal do Furadouro.



Olhando para a altura das vagas alterosas compreende-se bem a razão das marcas de maré lamberem o cordão dunar recentemente reforçado com areia. Aguentou-se!


As chuvadas recentes formaram charca na zona inter-dunar. É temporária mas proporciona um novo enquadramento ao sul do bairro piscatório.

Para quem vem de sul, por detrás das dunas, apercebe-se à distância, que uma estaca foi enterrada na areia. Habitualmente são troncos de eucalipto mas esta parece ser diferente na sua construção. 


De facto, não é madeira. Mas é um marco. E assinala dois sentidos, para nascente e para poente, tendo inscrito: ORBITUR S.A. 





ORBITUR S.A. é a designação de uma empresa líder do campismo em Portugal! E tem um lema: “Confie em nós para acampar em Portugal!”.

Agora, eu não posso acreditar que a ORBITUR esteja a pensar instalar naquele local da praia (o campo dunar) alguma infra-estrutura! Não pode ser.

Aquela estaca ou caiu ali por acidente ou é alguma brincadeira de Carnaval. Só pode ser mesmo!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dia Mundial das Zonas Húmidas e Ano Internacional das Florestas: que sentido fazem em Ovar?



As denominadas Zonas Húmidas formam por todo o planeta um grupo alargado de ecossistemas, nos quais a água no seu estado livre constitui o meio físico principal. Rios, lagos, albufeiras, estuários, marismas e praias, são algumas das Zonas Húmidas que, inclusivamente, existem no nosso país.  
As Zonas Húmidas contam-se entre as regiões do globo com maior bioprodutividade, pelo que, nelas se estabelecem importantes cadeias alimentares. De facto, desde os seres vivos mais pequenos, como o fitoplâncton e o zooplâncton até às espécies superiores, como aves, anfíbios, répteis, peixes e mamíferos, a biodiversidade das Zonas Húmidas só estará ausente se, sobre estas áreas, o homem interferir de forma negativa. Esse negativismo pode resultar de descargas poluentes, que sujam a água e matam a vida, da drenagem e enxugo de terrenos, que ficam sem o seu elemento vital, do abate indiscriminado das espécies que lá vivem, ou da criação de condições necessárias para as afugentar. 


É precisamente pelo perigo real destas ameaças, que resultam da ausência de uma gestão ou de uma efectiva gestão danosa, que existe o Dia Mundial das Zonas Húmidas, assinalado a 2 de Fevereiro.


As Zonas Húmidas apresentam geralmente na sua envolvência comunidades vegetais importantes, como bosques, arbustos e florestas. Entre esta massa vegetal destaca-se, como de especial importância, a vegetação ripícola, a qual invariavelmente abriga importantes comunidades bióticas. É também pela necessidade da conservação imperiosa destas galerias ripícolas, entre outras, que este ano é especial, pois é o Ano Internacional das Florestas.

Em Ovar dispomos de uma importante Zona Húmida, a Ria de Aveiro, que envolve os campos da parte sul do concelho. Muito já foi dito e escrito sobre a importância desta região, nomeadamente pela riqueza faunística e paisagística que apresenta. 
Mas parece que quem decide e/ou mostra interesse sobre intervenções nesta zona vareira ou é irresponsável ou não entende a diferença entre valorização e destruição. 
Quantos mais dois de Fevereiro serão precisos para estes decisores agirem de forma responsável no que respeita a esta Zona Húmida, conhecida na nossa terra por Ria de Ovar?



Também em Ovar dispomos de uma interessante zona urbana que se estende ao longo do rio Cáster e que até há bem pouco tempo correspondia a uma malha de terrenos privados, uns cultivados outros nem por isso. Esta zona há muito que se anuncia como o futuro Parque da Cidade. Além do projecto apresentado para o parque urbano de Ovar não ter revelado, como já o referi por diversas vezes, sagacidade para fazer a ligação de forma sustentada entre o centro urbano e a Ria, como seria possível e desejável, irá intervir sobre os bosques ribeirinhos existentes em torno do rio Cáster.

Estes bosques são pródigos nas tais cadeias tróficas que atrás referi. Aqui vivem corujas, mochos, genetas, doninhas, ouriços-cacheiros, passeriformes diversos, morcegos, borboletas…..aqui há vida natural, selvagem … que é preciso acautelar. E é pela importância da conservação das árvores e pelos riscos que as mesmas correm em serem cortadas, que há o Ano Internacional das Florestas. 

Vamos esperar que as ideias surgidas no âmbito do parque urbano sejam inteligentes, para que continuemos a ouvir o coaxar das rãs e o trinar das toutinegras e dos melros, para que possamos saborear o encontro fortuito com este ou aquele mamífero,  ou desfrutar da visão deste ou daquele sarapintado anfíbio, .... enfim, para que possamos continuar a sentir o bucolismo da natureza ovarense em pleno centro da cidade.



(este artigo foi publicado no jornal "João Semana", de 01/03/11)