quarta-feira, 18 de julho de 2007

Casos do Magreb: a verdadeira história de uma Bandeira Azul !


Na madrugada do passado dia 14 de Julho, sábado, mais uma vez e como que a cumprir uma fatal tradição por esta altura do ano, as águas da Barrinha de Esmoriz romperam com o frágil dique de areia que as sustém arrastando consigo um turbilhão de poluentes químicos e biológicos que conspurcaram a água do mar, a areia da praia e o ar que por aquelas bandas se respira.
Após este incidente procedeu-se de imediato ao hastear da bandeira vermelha na praia de Esmoriz, como forma de impedir os incautos banhistas de mergulharem na fossa em que entretanto se havia transformado o mar. No entanto e por incrível que pareça, a Câmara Municipal de Ovar não teve a sensatez (que seria de esperar) de ordenar a retirada imediata da Bandeira Azul, enganando deste modo todos os utilizadores daquela praia.

Nesse mesmo dia de sábado e face ao dramatismo da situação que se estava a viver em Esmoriz, foram efectuadas pela associação ambientalista “Palheiro Amarelo” várias chamadas telefónicas para os números disponibilizados pelas entidades governamentais envolvidas na gestão da Bandeira Azul (Câmara Municipal de Ovar e Associação da Bandeira Azul), tendo as mesmas mostrado-se infrutíferas, já que do outro lado da linha nunca ouve ninguém para atender o telefone.
Provavelmente, será natural ser assim em Portugal: não haver ninguém disponível durante o fim-de-semana para tratar de questões urgentes como estas; restou, então, aguardar por segunda-feira, apesar da Barrinha não ter parado de lançar os efluentes para o oceano durante todo o fim-de-semana! Por este facto, no Domingo, o Jornal de Notícias abordava já este desastre ambiental no concelho de Ovar.
Segunda-feira, dia 16. A RTP fazia também notícia do acontecimento. Apesar do grave atentado ambiental que decorria em Esmoriz, parecia que para a Câmara Municipal de Ovar a grande preocupação era que a Bandeira Azul, sinónimo de praia com qualidade, continuasse hasteada. Pois não é que a mesma lá continuava desfraldada ao vento no cimo do mastro! É caso para questionar: será que estes autarcas seriam capazes de se banharem no mar de Esmoriz no meio de tanta imundície? Ou de deixar os seus filhos brincarem no areal contaminado da beira-mar? Sinceramente, acho que não! E pergunto-me, porquê então, um “não” para os senhores da Câmara e um “sim” para os demais veraneantes?
Entretanto e novamente por diligências da associação ambientalista “Palheiro Amarelo” ocorrem uma série de contactos telefónicos entre a referida associação e a Associação da Bandeira Azul, quer a dinamarquesa, quer a portuguesa e entre esta última e a Câmara Municipal de Ovar, no sentido da autarquia proceder ao arriar da dita bandeira, pondo fim a uma reincidência de más práticas que têm servido apenas para descredibilizar o significado daquele galardão. A Bandeira Azul acabaria por ser retirada somente na tarde de terça-feira, dia 17, tendo sido necessário deslocar-se ao local uma autoridade marítima proveniente da Capitania do Porto do Douro.
Terça, dia 24. Durante a tarde, a Barrinha, que entretanto havia sido fechada, volta de novo a abrir continuando a poluir as praias do concelho.
Quarta, dia 25. Numa tentativa camuflada, a capitania (solicitada, sabe-se lá por quem!) volta a Esmoriz para proceder à entrega da Bandeira Azul, num momento em que a Barrinha ainda se encontrava a deitar para o mar. Imagine-se!!! A entidade marítima disposta a hastear a Bandeira Azul, quando na praia se encontrava afixado o seguinte edital: última colheita de água do mar realizada a 18/07 e respectivos resultados das análises com data de 20/07!!! Verdadeiramente inacreditável !!!
Quinta, dia 26. É o veredicto final. A presidente nacional da Associação da Bandeira Azul, finalmente cônscia da anarquia que em Ovar se vive, ordena que a Bandeira Azul não seja mais hasteada em Esmoriz até que se encontre uma solução para a Barrinha.

Aquela postura irreflectida demonstrada por parte da Câmara Municipal de Ovar acontece porque estamos em Portugal, onde o ambiente só é tido em consideração para efeitos de marketing eleitoralista. Porque estamos num país que, cada vez mais, reúne características terceiro-mundistas. Num país onde é possível a certos autarcas secundarizarem a saúde pública face à ambição cega por um galardão indevido, como seja a Bandeira Azul, mesmo que  hasteada numa praia poluída. Num país onde pululam autarcas, sem dúvida, habilitadíssimos para promoverem qualidade ambiental em favelas da América do Sul ou nalgum território do Magreb, mas sem capacidade para produzirem ganhos ambientais num concelho da Europa.

A terminar e perante atitudes como as que se viveram em Esmoriz saliento dois pontos relevantes.
Por um lado, o importante papel dos cidadãos (isolados ou em associações) na denúncia e correcção de situações ambientalmente insustentáveis, de que a celebração da festa da Bandeira Negra levada a cabo pelo Palheiro Amarelo pelo terceiro ano consecutivo é disso testemunho.
Por outro lado, a obrigação dos autarcas envolvidos nesta palhaçada assumirem as suas responsabilidades políticas por este atentado à saúde pública do concelho!

(Artigo publicado a 02.08.07 no Jornal de Ovar)